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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O Universo Animado de Hayao Miyazaki



Em 5 de janeiro de 1941, na cidade de Tóquio, nascia o menino Hayao Miyazaki em meio aos eventos da Segunda Grande Guerra. Segundo de quatro irmãos, Hayao viu sua mãe passar nove anos de cama e doente com tuberculose vertebral. Teve que mudar diversas vezes de escola e se apaixonou por aviões, já que seu pai e um tio trabalhavam com construção aeronáutica, sobrando para o garoto desenhar os modelos que mais gostava. Ele chegou à faculdade e se formou em Ciências Política e Econômica.
Como muitos garotos do pós-guerra, ele começou a desenhar mangás na escola, queria fazer isso na vida. Desenhava tanques, aviões, navios e principalmente pessoas. Logicamente a presença do mestre Osamu Tezuka, entre outros, influenciaram o desenho de Miyazaki, mas logo percebeu que deveria fazer algo diferente.


Trabalhou entre 1963 e 1971 na Toei Animation, exercendo diversas funções, até mesmo de Secretário-Chefe do sindicato da empresa. Casou-se com uma colega de trabalho e teve dois filhos naquele período. Decidiu deixar a empresa que cada vez mais dava lugar às produções para a televisão e menos para o cinema. Mas durante a década de 70 acabou trabalhando para outras empresas, participando de séries e filmes, criando conceitos,  cenários, roteiros, figurinos; como instrutor de iniciantes, etc. Até que, em 1982, ele cria um manga chamado “Kaze no tani no Naushika” ou, em português, “Nausicaä do vale do vento” transformado em um filme em 1984. Tanto o manga, quanto o filme, foram um tremendo sucesso e Miyazaki, com o dinheiro ganho, pode investir em seu próprio estúdio, o Ghibli.


Hayao Miyazaki é um mestre na arte de encantar. Seus filmes nos transportam para mundos interessantíssimos e únicos. Suas criaturas, quase sempre estranhas e horripilantes, transbordam sentimentos que os humanos deveriam aprender a respeitar. Suas máquinas fantásticas fascinam pela criatividade e profundo conhecimento de mecânica. As cores explodem na tela em cenários oníricos. É impossível não se apaixonar por alguma personagem onde as simpatia e empatia andam juntas. Ele não faz questão de criar histórias onde haja uma disputa explícita entre heróis e vilões, as disputas individuais nunca se sobrepõem às preocupações coletivas. Miyazaki tira de cada coração adulto aquilo que ainda há de criança, isso é tão difícil de conseguir, só um talento como o dele pode sintetizar uma vida num gesto de coragem e devoção de uma personagem.

Aqui vai o meu Top 5 dos filmes do Studio Ghibli de que mais gostei:

1- Princesa Mononoke (1997) 

Mononoke-Hime, nome original em japonês, foi a maior bilheteria da história do Japão até Titanic desbancá-lo. A história se passa no período Muromachi, (séculos 14 ao 16). Um demônio possui um grande javali e ataca a aldeiaEmishi. Seu príncipe Ashitaka, mata o animal, mas recebe uma maldição e é forçado a deixar a aldeia para procurar a cura com os espíritos da floresta habitada por deuses-animais. Ele chega a uma cidade onde se produz carvão e ferro fundido para construção de armas de fogo, mas os animais estão em batalha contra a fábrica que destrói a sua floresta. É aí que Ashitaka conhece San, a princesa Mononoke que foi adotada por uma deusa-lobo e protege a floresta da ganância humana.
Aqui, pode-se dizer que há um lado ruim, a Cidade de Ferro, que é muito parecida com qualquer cidade grande do mundo com todos os seus problemas sociais. A cidade que invade a floresta e quer se ver livre dos espíritos protetores. Mas, de certa forma, ao final, fica a sensação de que tudo é um ciclo, e que a paz é algo temporário.
Creio que seja o melhor trabalho de Miyazaki, é um épico complexo em sua narrativa. As cenas dos animais e espíritos são brilhantes e, de certa forma, desconcertantes. San, a princesa Mononoke é a personagem mais bela de suas criações, e também a mais forte no que diz respeito a sua obstinação em proteger o seu mundo. É um filme com um conteúdo mais adulto, com mais tensão.




2- Meu Vizinho Totoro (1988)

Duas meninas e seu pai mudam-se para o interior do Japão para ficarem mais próximos da mãe que está internada num hospital passando por um longo tratamento. Na casa as meninas descobrem “espíritos de fuligem” por causa da casa velha. Descobrem também pequenos animais chamados Totoros, que as levam à uma grande árvore, e lá veem o grande Totoro dormindo. Ele é o espírito guardião da floresta.
Qual o objetivo da história? Esperar que a mamãe se recupere e volte para casa. Assim as meninas passam seus dias com Totoro brincando, plantando nozes, esperando no ponto de ônibus o pai voltar do trabalho, sempre com o pensamento em sua mãe. Não há inimigos ou disputas, o que vale é descobrir mais e mais sobre os segredos daquele lugar.
Totoro muito provavelmente é a personagem mais conhecida e admirada do universo de Miyazaki. Além de ser transformado em logo da Ghibli, Totoro vem com os anos ganhando muitos admiradores e homenagens. O boneco de Totoro aparece em “Toy Story 3”, num episódio de South Park, e até mesmo Neil Gaiman em sua série Sandman fez com que um Totoro aparecesse numa de suas histórias.



3- A Viagem de Chihiro (2001)

O trabalho de Miyazaki foi reconhecido e conhecido mundialmente por causa de uma garotinha entediada, mimada, curiosa e medrosa chamada Chihiro, mas que no fundo está muito triste por deixar sua cidade natal para se mudar para outra com seus pais. Mas ao chegar a cidade, por um atalho, eles descobrem um lugar estranho que dá para uma cidade deserta. Lá, os pais de Chihiro começam a devorar toda a comida que há, para desespero da menina, os pais se transformam em porcos. O jovem Haku aparece para ajudar a garotinha que se vê num mundo de espíritos e monstros. Ela começa a trabalhar para a bruxa Yubaba, que é dona da casa de banho para os espíritos. Chihiro precisa superar seus medos para conseguir fazer com que seus pais voltem ao normal algum dia e que eles possam ir embora daquele lugar para não ser escrava para sempre da bruxa.




4- O Castelo Animado (2004)

Sophie trabalha numa chapelaria e um dia conhece um mago chamado Howl que a salva de alguns oficiais do exército enquanto se dirigia para a casa da irmã. A Bruxa das Terras Abandonadas, que persegue Howl, joga um feitiço em Sophie que, de dezoito anos passa a ter noventa. Para quebrar o feitiço ela acaba indo sem saber, com a ajuda de um espantalho, à casa de Howl. Ali conhece o demônio Calcifer que propõe a ela um trato para ajudá-lo a se livrar de um contrato que o liga a Howl. Sophie começa a trabalhar como faxineira da casa e com o tempo se apaixona pelo mago, que é obrigado a lutar contra um reino vizinho e participar de uma guerra.






5- Porco Rosso (1992)

Marco Pagot é um experiente aviador que lutou na Primeira Grande Guerra. Foi amaldiçoado com uma cabeça de porco em seu corpo após ter visto os espíritos dos combatentes mortos na última batalha que enfrentou. Conhecido como Porco Rosso, ele trabalha com resgates de pessoas que são sequestradas por piratas do ar. Porco é apaixonado por Gina, que é cortejada por Curtis, um piloto americano contratado para ajudar os piratas a se livrar de Porco. O que gerará muita competição entre os dois grandes pilotos.
A história se passa no período entre guerras no mar Adriático. O filme também mostra um pouco o regime fascista crescendo na Itália, o crash na bolsa em 1929, entre outras situações da época.
Neste filme Miyazaki explora sua paixão pelos aviões, até mesmo a cena da reconstrução do avião de Porco Rosso claramente demonstra paralelos com aquilo que viu quando criança com seus parentes. Mas ao invés de um homem, quem reconstrói o avião é uma moça chamada Fio. Novamente quem manda são as mulheres.



Os filmes de Miyazaki são com certeza obras- primas, e todos deveriam assisti-los e, apesar dos rumores de aposentadoria sempre frequentes, espero que esse gênio da animação continue a nos mostrar muito mais desse seu universo incrível.